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Assim como comentamos por duas semanas seguidas, mais uma vez o destaque da semana foi a curva de juros americana.

Quem acompanha nossos e-mails está a par do assunto. Essa mudança, que vinha sendo precificada nos juros americanos, não passaria ilesa no mercado. De fato, a queda das bolsas americanas e o sell-off de algumas ações de tecnologia, devem ser consequências desse movimento. Também vimos um movimento de rotation, em curso no mercado, em favor das ações de bancos, petróleo, companhias aéreas e empresas de turismo.
No frigir dos ovos, tivemos uma semana com queda nas bolsas americanas.

Esse cenário de volatilidade e incerteza externa vem acompanhado das declarações do presidente Jair Bolsonaro, que parecem não ter ecoado bem no mercado e, possivelmente, colaboraram para alta do dólar na semana. O dólar, que encerrou em R$5,59. Essas altas derivam possivelmente de desarranjos internos e nos lembra o quão fundamental pode ser para o investidor buscar a globalização do seu patrimônio como forma de minimizar o risco específico do investimento concentrado no Brasil.

OS JUROS NÃO PARAM III

Dando sequência as últimas duas semanas vimos os juros longos americanos seguirem sua toada de alta, ecoando no mercado com diferentes consequências – as quais já abordamos aqui semana passada (sugiro a leitura do e-mail da semana passada).

 

Fonte: Investing.com

 

IS THERE AN ALTERNATIVE?

Um acrônimo que vinha sendo muito usado nos EUA para explicar a alta dos ativos é o “TINA” o “there is no alternative”. A ideia de que com yields no zero não haveria alternativa senão investir em ações. Não por acaso o fluxo de investimento em ações vinha batendo recorde atrás de recorde. E não há nada que os investidores gostem mais do que perseguir preços mais altos, como mostram os dados de fluxo de fundos mais recentes. Os investidores injetaram US$ 46,2 bilhões em fundos de ações globais na semana que se encerrou na quarta-feira (24/02).

 

Fonte: Market Watch

 

Entretanto, com essa alta recente dos juros, o que passamos a ver é que talvez haja alternativa. O gráfico abaixo compara o yield das empresas do S&P 500 de forma agregada com o yield dos juros de 10 anos dos EUA. Com a alta das ações que vimos nos últimos meses seu dividend yield diminuiu e agora a escolha por ações talvez deixe de ser a única alternativa. Não por acaso vimos um desempenho negativo dos índices acionários nessa semana que passou.

Fonte: Market Watch

 

PERGUNTAS…

Dado os fatos recentes temos algumas perguntas no ar:

Até que ponto esse movimento pode ser considerado negativo? A alta dos juros costuma indicar que o mercado acredita que teremos recuperação econômica, crescimento e em algum momento inflação – um “problema” melhor do que a deflação e a falta de crescimento, não é mesmo? Entendo que devemos monitorar a velocidade desse movimento de alta e não o valor em si. Acontecendo de forma paulatina e sem picos, o mercado deve se ajustar.

Até onde vai essa alta? Não sabemos ao certo, mas o hedge fund Man Group fez uma análise baseada numa regressão que leva em conta preços de commodities e de ações, sinalizando que há ainda um bom espaço para esses yields seguirem em alta. Além disso, olhando os inputs industriais (preços de metais) e preços de alimentos, parece mais claro que em algum momento teremos uma inflação lá na frente que substanciará esse movimento de antecipação dos mercados. Fora isso, a perspectiva de mais injeções de recursos na economia acaba por retroalimentar essas perspectivas.

 

Fonte: Market Watch

 

E OS MEUS INVESTIMENTOS COM ISSO?

Como já comentei aqui, esse movimento de juros tem impacto em diferentes variáveis do mercado. Alguns já vêm sendo observados: queda no preço do ouro e de ações de tecnologia de forma mais intensa, além dos mercados emergentes também não se beneficiarem com isso.

Passamos a ter um cenário com estímulos fiscais e monetários, uma economia em recuperação, e um cenário de inflação se formando. Assim, o racional sob o ponto de vista de alocação poderia ser a busca por temas de crescimento e que se beneficiem desse cenário inflacionário.

Tradicionalmente, nesses casos, temos uma performance melhor de ações de empresas de menor porte versus grandes empresas, empresas cíclicas versus defensivas, mercados de commodities ou emergentes atrelados a commodities, além de bancos e seguradoras, que também podem se beneficiar desse cenário de maiores juros.

LEITURAS INTERESSANTES…

  • Os juros foram o ator da semana na cena do mercado americano. Mas tem gente que não vê problema algum nessa alta recente dos juros. Leia e entenda os argumentos.
  • Passarinho azul voando? Numa semana negativa para o mercado de ações e para as empresas de tecnologia, as ações do Twitter se sobressaíram com uma performance positiva na esteira de promessas de crescimento pelos seus executivos. Comentamos no podcast de sexta, e aqui você pode ler para entender melhor.
  • Bitcoin não serve? Nos últimos dias o Bitcoin sofreu uma queda e vimos alguns comentários negativos sobre a cripto. O vice-presidente do Mastercard comentou que a cripto é muito volátil e o sócio de Warren Buffet, Charlie Munger também teceu algumas críticas – confira.
  • Elon Musk sendo investigado? SEC resolveu investigar o CEO da Tesla pelos seus tweets sobre a criptocurrency dogecoin – Leia mais sobre .

Até semana que vem.

WILLIAM CASTRO ALVES