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VISÃO DO ESTRATEGISTA

A BOCA DE JACARÉ QUE ABRIU MAIS

Tivemos diversos assuntos permeando a cena de investimentos na última semana… Afeganistão, resultados das empresas de varejo aqui nos EUA, o tal “tapering” do FED podendo começar muito em breve, entre outros. Mas para nós, brasileiros, não tem como não falar da cena local de investimentos no Brasil.

Aquela “boca de jacaré” que comentei na semana passada abriu ainda mais, exacerbando o cenário de investimentos nos EUA (linha preta) versus mercados emergentes (linha vermelha) e o Brasil (linha verde) – vide gráfico. O que esse gráfico mostra é que o investimento em bolsa de valores no Brasil e no mercado emergente não compensou o risco maior que esses mercados representam e já acumulam perdas no ano, ao passo que o mercado americano acumula alta de quase 20% no mesmo período.

Investing

 

O QUE EXPLICA ISSO?

Muitos de vocês podem imaginar que a explicação para a fraca performance da bolsa brasileira se deve aos problemas e incertezas políticas de Brasília. De fato, incertezas são sempre precificadas no mercado, para baixo…” Na dúvida vende”. Temos uma situação fiscal nada boa, um governo com popularidade caindo e à beira de uma eleição. Isso certamente não ajuda.

Mas veja que os mercados emergentes em geral também não vêm performando bem, logo, a fraca performance não é exclusividade do Brasil, mas também é encontrada na China, Turquia, Indonésia, entre outros.

Então penso que temos 2 fatores que ajudam a explicar e que vão além dos vetores tradicionais das inconsistências macroeconômicas e políticas dos emergentes.

Fator 1: As commodities.

Depois de um começo de ano em forte recuperação, diversas commodities passaram por fortes realizações (quedas de preços), em especial commodities metálicas e o petróleo – vide gráfico abaixo. Isso se deve à desaceleração da economia chinesa e americana – onde os últimos dados têm surpreendido pela ponta negativa.

The Daily Shot

 

E basta olhar um gráfico de mais longo prazo para ver que os mercados emergentes (linha vermelha) guardam uma correlação muito forte com os preços das commodities (linha azul) – vide gráfico abaixo. Em outras palavras, podemos dizer que os preços das commodities, intrinsicamente cíclicos e voláteis, influenciam, e muito, o desempenho dos mercados emergentes.

Investing

 

Fator 2: Já tem sido assim há tempos.

Dominic Toretto nos ensinou no filme Velozes e Furiosos 5 – Operação Rio: This is Brazil.

Brincadeiras à parte, o gráfico abaixo compara a performance de mercados emergentes com mercados desenvolvidos. Essa diferença que vemos de forma mais clara agora já existe há algum tempo. Desde 2012, os mercados emergentes vêm apresentando uma performance mais fraca vis a vis desenvolvidos.

Mercados Globais

 

Nosso estrategista Guilherme Zanin fez uma bela análise sobre isso, nos trazendo algumas vertentes de pensamento econômico.

Os emergentes estão defasados? Sim! Mas vão convergir? Apenas se você acredita que vamos ter o mesmo arcabouço institucional que as grandes nações possuem. Isso se chama economia em teoria de crescimento endógeno de Paul Romer’s, que destaca que países desenvolvidos tendem a manter ou até aumentar a vantagem competitiva. Essa teoria fica em oposição ao modelo de Solow de convergência das nações pobres contra as nações mais ricas. – Guilherme Zanin

 

AFINAL, O BRASIL ESTÁ BARATO OU O BRASIL É BARATO?

Respondendo objetivamente à pergunta acima: sim para os dois.

Não gosto das comparações do mercado brasileiro com americano ou de países desenvolvidos porque sempre fomos “descontados”. Então acaba que estarmos “mais baratos” frente ao mercado americano não nos diz muito. O maior risco é que o investimento no Brasil faz com que, historicamente, a bolsa brasileira negocie com desconto grande ao mercado americano.

Agora, depois das quedas recentes, o mercado brasileiro parece barato quando analisamos diferentes métricas. Uma delas é bem simples, intuitiva e muito usada. A relação Preço/Lucro da bolsa brasileira (linha azul) atingiu mínimas quando analisamos um gráfico de longo prazo. Ademais quando comparado mesmo a emergentes (linha cinza), o Brasil apresenta um múltiplo menor (mais barato) que outros mercados.

JP Morgan

Não é à toa que o JP Morgan lançou um report essa semana intitulado “Estratégia de ações para o Brasil: Teste de estresse, oportunidade de compra”.

JP Morgan

2 COISAS SUPER IMPORTANTES SOBRE INVESTIR NO BRASIL

  1. Alocação.

Tradicionalmente, o “gringo” (investidor estrangeiro) vê o investimento no mercado brasileiro como “tático”, “uma alocação de curto prazo”, “especulativa” que visa aproveitar uma assimetria temporária. O Brasil, assim como outros emergentes, não é visto como um porto seguro a investimentos de maior porte (maior parcela de alocação do capital).

O que estou querendo dizer com isso é que, mesmo estando interessante aproveitar eventuais oportunidades no Brasil, a alocação destinada ao Brasil normalmente é pequena em proporção à carteira total de investimento. Diferente do brasileiro, o “gringo” não aloca uma parcela relevante do seu capital no Brasil. Por que o brasileiro deveria fazê-lo, então?

Em outras palavras, talvez seja hora de você repensar sua carteira total de investimentos, direcionando, sim, parte ao Brasil – mas que essa “parte” não seja a mais relevante do seu portfólio.

 

  1. Qual é a melhor forma de investir no Brasil?

A melhor forma de se aproveitar oportunidades no Brasil é justamente através do mercado americano!

Como assim?

Existem mais de 80 empresas brasileiras que possuem ações ou ADRs negociadas no mercado americano (lista completa); além de alguns ETF’s (lista completa) que permitem exposição ao mercado brasileiro. A vantagem de investir no Brasil através do mercado americano é a da moeda, dado que aqui você investe em dólares.

E por que isso é importante?

Supondo que essa tese de investimento no Brasil “não dê certo”, supondo que as coisas piorem no Brasil e que a percepção de risco se eleve mais (bate na madeira 3x), qual seria o impacto mais óbvio? O de uma valorização do dólar frente ao real. Ou seja, é como você tivesse o que chamamos de hedge (proteção) a um cenário inverso ao da posição assumida na sua carteira.

Pense a respeito.

 

Era isso pessoal, aquele abraço!

William Castro Alves