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Bolha no S&P? Será mesmo?

Semana passada o Zanin que escreveu essa coluna falando bastante de inflação, algo que todos nós, seja aqui nos EUA ou no Brasil, temos percebido. Interessante notar que apesar dessa pressão de preços, essa semana tivemos dados de vendas no varejo americano que vieram bem fortes e acima do esperado pelo mercado, mostrando que a demanda segue muito forte. O gráfico abaixo mostra a evolução/tendência do consumo aqui nos EUA – no dado exclui-se as vendas de gasolina e carros, para expurgar o efeito de alta dos preços de combustíveis sobre as vendas do varejo.


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Nesse cenário de demanda aquecida e diversas quedas nas cadeias de suprimentos, não é de surpreender que a relação de estoques referente às vendas tenha atingido mínimas históricas. Em outras palavras, isso nos diz o seguinte: persistindo essa forte demanda, ou vai faltar produto na prateleira, ou as empresas irão reajustar preços… ou os dois!


The Daily Shot

E trago isso como tema inicial dessa coluna para ressaltar a sua importância. O Consumo responde por quase 70% do PIB americano! Por isso esse é um tema muito relevante.

RESULTADOS E EMPRESAS…

Olhando para as empresas vimos esse cenário se confirmar. Essa semana tivemos resultados de diversas empresas do setor, então vou citar aqui alguns exemplos. Na quinta-feira a Macys elevou seu guidance de vendas para o ano, apontando para mais crescimento e suas ações saltaram mais de 20%. A Target, um dia antes, bateu as estimativas do mercado com vendas recordes, mas apontou para os receios com inflação pressionando suas margens. Na terça, o Walmart mostrou números mais fortes também e, diferentemente da Target, está se beneficiando de preços mais altos, pois foca exatamente em oferecer produtos mais baratos, algo que o consumidor tem buscado mais intensamente – o Walmart é conhecido por sua ênfase no “preço baixo do dia a dia”. O CEO da companhia, Doug McMillon, disse que a empresa está ganhando participação no mercado de alimentos à medida que os consumidores dos EUA voltam às suas lojas. Outras que reforçaram esse cenário foram as duas gigantes dos materiais de construção: Home Depot e Lowes.

Acompanhe todos esses e outros resultados diariamente através do nosso podcast ou através do conteúdo escrito disponível na área logada para clientes. Além disso, para quem quer saber sobre sua ação específica acesse esse link para baixar um report completo com mais de 100 resultados comentados.

Falando dos resultados de forma agregada, 92% das empresas no S&P 500 reportaram resultados e dessas 81% relataram EPS (lucro por ação) acima das estimativas. No total, as empresas estão reportando ganhos que estão 10,1% acima das estimativas, o que está acima da média de 5 anos de 8,4%. O crescimento de lucros na comparação anual (ante o 3T20) está em 39% (fonte). O gráfico abaixo mostra a evolução do lucro projetado em comparação ao S&P 500.


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Em termos de receitas, 75% das empresas relataram receitas acima das estimativas, número este acima da média de 5 anos de 67%. No total, as empresas estão relatando receitas que estão 2,8% acima das estimativas e um crescimento médio de 17,5%.

Mas ao mesmo tempo que os números estão bons, a inflação tem sido uma preocupação muito presente nas conferências de resultados. Transitória ou não, ela está aí e os CEOs das empresas tem demonstrado preocupação com ela.


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BOLSA AMERICANA NAS MÁXIMAS…E AÍ?

E, para acabar, acho válida essa discussão da bolsa americana contrastando fortemente com os ativos locais (ações no Brasil). Vemos algumas pessoas aqui e ali comentando sobre bolha nos EUA ou ainda alertando para os riscos de investir no exterior depois das altas recentes.

De fato, investimentos sempre guardam riscos…. de fato, já até comentei aqui que entendo que os preços dos ativos brasileiros estejam exageradamente depreciados. Por outro lado, não existe a necessidade dessa dicotomia de “ou eu invisto no Brasil ou fora dele”. Na verdade, entendo que os dois podem e até devem coexistir na carteira dos clientes cada um com o percentual adequado para o nível de risco que o investidor esteja apto a assumir.

Mas deixando discussões de lado, gostaria de trazer um gráfico muito bom da gestora Encore. Ele faz uma comparação dos juros americanos de 10 anos (linha amarela), do earnings yield do S&P 500 e da diferença entre esses 2. O earnings yield nada mais é do que você pegar o lucro e dividir pelo valor de mercado das empresas. A lógica desse gráfico é a seguinte: quanto maior a diferença entre esses 2 indicadores, mais interessante o investimento em ações; o contrário também é verdadeiro, ou seja, quanto menor essa diferença, menos atrativo seria investir. Pois bem, o que temos então é: pelo gráfico não podemos dizer que há bolha no S&P ou ainda que esse esteja desconectado da realidade de lucros.


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Avançando no tema, o Guilherme Zanin montou um gráfico com algumas empresas com elevado Earnings Yield. Em outras palavras, além de serem empresas lucrativas, seus lucros representaram uma parcela elevada em comparação ao seu valor de mercado. Ou seja, mesmo com bolsas nas máximas existem empresas que podem oferecer uma relação risco retorno comparativamente ao que seus resultados têm demonstrado.


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E para acabar, apenas para ilustrar onde as maiores empresas da bolsa americana se “situam” na relação valor de mercado e seus lucros.

 

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Penso que quanto mais a bolsa sobe, mais cautelosos e seletivos devemos ser. No entanto, também não podemos nos deixar levar por narrativas superficiais e viesadas que insistem em dizer que o mercado está caro. Aqui entre nós, ouço essa há pelo menos 5 anos!

 

Era isso pessoal. Me sigam nas redes sociais – @willcastroalves no Twitter ou Instagram.

WILLIAM CASTRO ALVES