Setor Fintech – Tese de Investimentos

Em 2018, os Estados Unidos respondiam por 57% do mercado de fintech¹. Além disso, o surgimento e crescimento do modelo de bancos digitais e o avanço dos pagamentos por telefone levou ao aumento da adoção de transferências de dinheiro e serviços de pagamento por fintechs. O pagamento digital é o segmento líder de mercado, com um valor total de transações de US$ 880 bilhões em 2018.

Segundo dados e estimativas da eMarketer, o número de pessoas nos Estados Unidos que já usam de forma corriqueira serviços de algum tipo de fintech é de mais de 60% e ainda deve chegar a 65% da população, segundo o gráfico abaixo.

Statista/eMarketer

No gráfico a seguir, também é possível notar que, ao longo dos anos, a porcentagem de pessoas adquirindo empréstimos e financiamentos na América do Norte disponibilizados por fintechs tem aumentado. Enquanto a mesma operação, executada em bancos convencionais, vem apresentando queda desde 2014.

Statista

A World Fintech Report² afirma que muita coisa mudou para os clientes. O infográfico a seguir apresenta uma série de motivos pelos quais muitos consumidores passaram a adotar as fintechs.

A maior parte dos americanos, 68%, apontaram que os principais fatores de decisão para migrar para uma fintech era a praticidade, velocidade do serviço e a busca por novas funcionalidades e produtos personalizados. Antes, precisavam ir até o banco, muitas vezes aguardar por horas, conversar com o gerente e, em alguns casos sair de lá sem a resolução do problema.

Outro fator importante para essa grande mudança se dá no bolso e na busca por produtos que apresentem maior flexibilização dos custos. Muitas fintechs oferecem produtos e serviços mais baratos e até isenção de taxas, o que corrobora ainda mais com o perfil dos americanos, que prefere pagar menos ou nenhuma taxa.

Fintech News

Somado a todos esses fatores devemos levar em conta que muitos usuários de produtos financeiros nasceram na era digital, o que faz com que essas fintechs possam ter um relacionamento mais próximo e baseado em dados, utilizando-os de maneira criativa para gerar ainda mais atratividade. Segundo o Carlos Lopez³, Global Head of Open Banking do banco espanhol BBVA, essa geração seria “born digital, born with data” – em tradução livre: nascidos digitais, nascidos com dados. Em contrapartida, os bancos tradicionais são orientados para o produto, tendo seus dados utilizados apenas para comportamento de risco.

Muitas dessas fintechs entraram no mercado com uma única oferta (geralmente pagamentos) e então se aventuram em empréstimos, poupança, gestão de patrimônio e outros. Ao mesmo tempo, empresas de tecnologia de grande porte agora oferecem também diversos serviços financeiros e estão aumentando sua presença por meio de investimentos globais em fintechs.

TENDÊNCIAS

Pagamentos Digitais

A principal tendência, ou o primeiro segmento a sofrer forte impacto dessa transformação digital, foi o de pagamentos digitais, que, segundo estimativas, deve continuar em expansão nos próximos anos⁴.

O segmento de mercado de pagamentos digitais é liderado por transações de consumo e inclui pagamentos de produtos e serviços que são feitos pela internet, bem como pagamentos móveis no ponto de venda (POS) por meio de aplicativos para smartphones.

Segundo a Mordor Intelligence, espera-se que o segmento de pagamento digital atinja um valor total de transação de US$ 1,26 trilhão de dólares em 2021⁵. Além disso, espera-se que o crescimento de 2021 até 2025 tenha um CAGR de 13,38%, resultando em um valor total projetado para o final de 2025 de US$ 2,1 trilhão de dólares, aproximadamente.

Analisando o gráfico acima podemos verificar que o comércio digital representa a maior parte dos pagamentos digitais, com um valor projetado de US$ 800 bilhões para o ano de 2021, nos Estados Unidos. Enquanto isso, globalmente espera-se que o segmento de pagamento digital atinja US$ 6 trilhões em 2021⁶.

Finanças Pessoais

O segmento de finanças pessoais contém serviços de investimento automatizados que permitem aos investidores alinhar sua estratégia de investimento ou portfólio usando recomendações automatizadas – carteiras automatizadas, controles de portfólios e investimentos.

Isso tornou a vida de muitos investidores ou pessoas físicas mais fácil. Agora eles podem acessar plataformas, relatórios e comprar ativos pagando menos ou até nenhuma taxa. Muitas vezes, diretamente do celular, com muita comodidade e agilidade.

Outra tendência dentro desse segmento, são os robo advisors (robôs assessores) que auxiliam de forma automatizada, em cima do perfil de risco do cliente, qual carteira ou ativos seriam ideais para ele.

Espera-se que os ativos sob gestão no segmento robo advisors atinjam US$ 937 bilhões em 2021⁷,com uma taxa de crescimento anual (CAGR 2021-2025) de 19,53%, resultando em um valor total projetado de US$ 1,9 trilhão até 2025.

No gráfico abaixo, é possível ver o crescimento das transações financeiras envolvendo as finanças pessoais.

Open Banking

O open banking é considerado o catalisador que transformará o setor bancário do mundo. Conforme os modelos bancários tradicionais evoluem, novas oportunidades para adquirir clientes, minimizar riscos e melhorar a experiência do cliente começam a aparecer. Os bancos bem-sucedidos serão aqueles que ganharem confiança de seus clientes para compartilharem dados⁸.

Os primeiros a adotar o open banking com mais sucesso serão aqueles que melhor se comuniquem com os indivíduos sobre os benefícios do compartilhamento de dados pessoais. Além disso, eles precisarão integrar esta mensagem com uma ótima experiência do cliente, se esperam uma aceitação em massa. Veja alguns pontos positivos do open banking:

• • Conquistar novos clientes;
• • Tornar-se mais relevante no setor bancário;
• • Minimizar riscos;
• • Proporcionar melhores experiências ao cliente.

No gráfico abaixo, é possível ver que o número de fintechs no mundo mais que dobrou em relação a 2018⁹.

Adoção de criptos e câmbios descentralizados

Espera-se que a popularidade de moedas virtuais ou digitais, como bitcoin, etherium, dentre outras, impulsione o mercado nos próximos anos e continue crescendo a CAGR de 11,2% a.a¹⁰.

O tamanho do mercado global de criptomoedas era de US$ 754 bilhões. Já em 2021 verificou-se um salto atingindo cerca de US$ 2 trilhões¹¹ – meta que só era esperada para 2027.

A crescente popularidade de ativos digitais como bitcoin e litecoin provavelmente conduzirá o crescimento do mercado nos próximos anos. Além disso, a moeda digital também é frequentemente utilizada com a integração da tecnologia blockchain para ter descentralização e transações eficientes e controladas.

Essa tecnologia¹² oferece transações descentralizadas, rápidas, transparentes e seguras.

Logo, é de se esperar que um número maior de instituições descentralizadas surja. A plataforma de troca descentralizada avançada (DEX) oferece a tecnologia blockchain e a conexão ponto-a-ponto que inibe o envolvimento de terceiros na transação e torna o sistema de transação mais rápido e fácil. Essas características vantajosas do sistema tornaram-se populares, o que encoraja os principais participantes a expandir essa carteira de câmbio descentralizada.

Vale ressaltar que dentro desse universo, temos outras tendências acontecendo, como:

• • Investidores institucionais começando a investir em criptomoedas;
• • ETFs de criptmoedas já estão sendo pedidos e pressionam a SEC por aprovações;
• • StableCoins podem ser a melhor esperança para o setor em 2021. StableCoins são tokens digitais atrelados a uma moeda fiduciária;
• • Empresas de câmbio abrindo capital em bolsas.

Fatores de riscos ao investidor em fintechs

Se aparentemente por um lado existe potencial de crescimento com a entrada da tecnologia nas diferentes vertentes do mundo financeiro, também existem riscos que não podem ser desprezados:

• • Ambiente regulatório¹³: A fintech precisará garantir que tem condições de manter implementações de sistemas de gestão de risco adequados e satisfatórios para os seus clientes. À medida que o mercado de fintech evolui, o mesmo ocorrerá com o ambiente regulatório, e um grande risco para as fintechs será acompanhar as atualizações mais recentes dos reguladores.
• • Falha de tecnologia: A tecnologia inovadora é essencial para as empresas de fintech e foi justamente assim que elas interromperam os serviços financeiros tradicionais. No entanto, essa forte dependência da infraestrutura de tecnologia significa que as empresas podem ficar vulneráveis ao roubo de dados ou ataques de hackers.
• • Necessidade de Aportes constantes: Muitas das fintechs precisam de aportes de capital para continuar operando e sobrevivendo. Como são companhias jovens e precisam ganhar escala (conseguir mais clientes), geralmente, não conseguem apresentar lucro ou fluxo de caixa positivo no final do dia. Sendo assim, ela precisa de investidores dispostos a fazer novos aportes para que consiga garantir a continuidade de sua operação.
• • Dificuldades em ser lucrativa: Por serem jovens e, muitas vezes, apresentarem de 1 a 3 produtos no início das suas operações, as fintechs sacrificam resultados positivos em troca de crescimento e ganho de escala. Porém, muitas delas continuam dando prejuízo, sem nenhum período certo para entregarem resultados melhores e conseguirem andar com as próprias pernas.